sábado, 25 de junho de 2011

Uma história impossível de acreditar

Por: A sombra do carvalho em terras do Alto Minho

Depois, quando a sociedade secreta
La Gaviota Negra” será descoberta.

Estava a lê-lo, mas não podia dar credo. Uma cousa assim só podia ser fantasia, pensou. Mas alguém teria suportado tantas dificuldades apenas por uma fição. Não. Aquilo era algo sério. Contudo, uma organização secreta, alta tecnologia e manipulação genética em humanos. Algo tinha de haver errado ou quando menos de exagerado. Reflexionou mais um bocadinho. Suspirou e guardou novamente os documentos na gaveta. Pegou o telemóvel e telefonou ao seu superior.

Antes, quando algumas vítimas que fugiram
organizavam um movimento de resistência

Numa rua de Vigo iniciara-se um tiroteio. As balas rompiam os vidros dos autos. As pessoas fugiam presas do pânico. Em breve foram ouvidas as campainhas e as luzes de cores dos carros da polícia, mas isso não dissuadia a nenhum dos bandos contendentes. Continuavam a disparar, a cruzar o fogo de pistolas e metralhadoras, mesmo alguma granada fazia voar nacos de asfalto que impatavam violentamente em todas as coordenadas. A polícia achava-se impotente perante um duelo dessas magnitudes. Aguardavam reforços.

Em meio de explosões, balas e destruição um dos atiradores movia-se dum modo inacreditável, cuma velocidade e destreza que nem o melhor dos guerreiros de todos os tempos poderia imitar. Parecia desafiar os limites da psicomotricidade humana. Disparava a alvo certo, pulava por acima dos autos destroçados pela metralha, derrubava aos adversários com pancadas e chutes acrobáticos.

- Miro, e momento de fugir – berrou-lhe alguém desde um Land Rover.

O herói subiu e também outros três atiradores. Um deles estava ferido. O pano branco que lhe envolvia o braço tingia-se de vermelho.

- Este será o nosso símbolo – disse Miro.
- Qual?
- O sangue das feridas daqueles que são silenciados a disparos, sobre o branco da paz, o branco de quem é sincero e justo.

Chegaram até uma cabana no meio dum bosque de eucaliptos. O ferido apoiou-se em Miro. Entraram dentro. Um deles ficou fora ocultando o Land Rover num pequeno alpendre perto da cabana. Sentaram ao ferido numa cadeira para limpar-lhe a ferida e intentar tirar-lhe o projétil. Miro olhava pela janela a meditar em voz alta.

- Temos de acabar com eles, descobri-los, mas para isso é necessário obter mais informação, mais informação da que lhe facilitamos a da Silva. Não sabemos nada. Merda! Henrique, como estás?
- Tou fodido, fodido, mas.. - disse entre berros – hei sair desta. Não foi para tanto.
- Lamento todo isto. Se pude-se saber algo, uma pista. Onde caralho têm o búnquer?
- Miro, a próxima vez lograremos capturar a um com vida e faremos que fale. Tens a minha palavra. -disse Inácio.
- Eu sei, meu amigo, eu sei. A próxima vez não falharemos.

O comissário reuniu aos seus agentes para falar do tiroteio. Não faziam ideia do que acontecia, quem disparava a quem. Suspeitavam que aquilo era cousa de máfias numa disputa por narcóticos. Se calhar guardava relação com os moços desaparecidos. Havia anos que muitas crianças e rapazes estavam a desaparecer sem deixar rastro.

Levaram ao laboratório mostras de sangue e pegadas digitais nalgumas armas. Intentavam identificar aos mortos. Os resultados de todas as pesquisas chegariam em poucos dias, mas não se conseguia identificar a ninguém. Não havia nenhum dado relacionado com os falecidos. É como se não existissem, não tivessem bilhete de identidade. Aquilo era algo do mais estranho. Desesperado, o comissário envia à zona a vários agentes de paisano para intentar tirar alguma informação que poda ser de ajuda, para ver se alguns dos implicados voltam ao cenário do tiroteio.

Enquanto a polícia dava paus de cego, o comando reunia-se em assembleia. Estavam decididos a pôr fim à Gaivota Preta. O melhor modo de fazê-lo era descobrir o segredo, mas antes tinham que averiguar onde se refugiam, onde têm oculto o búnquer. Necessitavam fazer-se com algum membro implicado ou relacionado com a organização. Esse era o objeto da assembleia. Deviam averiguar o modo de achar a alguém da Gaivota Preta. Sabiam que fazer correr o rumor de que contavam com informação clave não voltaria a funcionar para atrai-los, mas e se os convocassem a um encontro. Alguém sugeriu a ideia de pôr um anúncio no jornal.

- Ninguém sabe que existe algo com o nome ou o alcunho de “La Gaviota Negra”, não é? Bom, pois é simples. Só eles se darão por aludidos. Diremos algo assim como....

- Aguarda – Interrompe Inácio – E a polícia? Estarão atentos a qualquer cousa estranha. Se calhar não, mas é possível levantar suspeitas, que a Gaivota Preta veja isso como algo demasiado arriscado e considere oportuno não acudir.

- Mas podemos fazê-lo duma forma bem discreta e segura de modo em que eles também se sentirão livres das suspeitas policiacas. A ideia é pôr um anúncio que diga o seguinte: “Vende-se ave parecida a gaivota de cor preta, interessados ligar para” e aí colocar um número de móvel seguro que lhes permita ligar para nós. Eles ainda não sabem se temos ou não informação que os poda prejudicar e em qualquer caso querem liquidar-te a ti, Miro, e a todos nós. Acho que pode funcionar. Se alguém tem uma ideia melhor é o momento de comentá-la.

- Esta vez irei eu só – Disse Miro. - Não posso pôr-vos em perigo. Ademais, sei cuidar-me.
- Não, disso nem falar. Não te vamos deixar só perante o perigo.
- Falei. Irei sem reforços. É melhor desse jeito. Não insistais. Sei bem o que faço.
- Uma cousa. E aquelas pessoas que chamem interessadas no anúncio e que não têm nada a ver com todo isto? Poderia estragar a operação. Como é que sabemos que são os da Gaivota Preta? E como eles saberão que somos nós?
- Bom, tens razão. Pronto, eu sei. Tudo meditado. Não há lugar a problemas. Já está. Todo o que há que fazer é adicionar ao anúncio seis mil ou dez mil euros. Que se vende o pássaro por dez mil euros. É demasiado custoso como para que alguém se interesse por ele e não demasiado como chamar a atenção da polícia – Disse o Inácio.
- Daquela está falado, disse Miro.

La Gaviota Negra” conseguira capturar a da Silva

O jornalista percebeu que alguém o espreitava. Estugou o passo. Estava sozinho nas ruas escuras do bairro. A angústia instalara-se no seu peito. Apenas vinte minutos e estaria na moradia. Deteve-se. Olhou para todas as coordenadas sem avistar a ninguém. Tentou afinar a vista na escuridão não fosse haver qualquer ameaça agachada entre as sombras. Apenas um gato fomento acima de contentores de lixo. Ernesto da Silva continuou a sua marcha. É apenas a minha imaginação… Pensou. Mas a inquietação não o abandonava. Talvez fosse a pasta que portava um talismã que atrai o azar.
Lamentava não ter vindo de táxi à saída. As palavras do Inácio ressoavam na sua cabeça. - Chegas, pegas no documento, sais e apanhas um táxi. Direitinho para casa. Ok?. – Disse o amigo encurtando a distância, a zunir-lhe no ouvido. O licenciado já tinha superado encomendas perigosas. O que era diferente desta vez? Perguntou-se. Seriam capazes de matar?
Ao cruzar a ponte do Tâmega a noite fazia-se um bocado mais solitária. As ruas perdiam-se ao fundo entre o nevoeiro, e atrás ficava o acorde interrupto das correntes. Havia algo de poético naquela paisagem governada pelo frio invernal não sendo pela perturbação desse sexto sentido que os repórteres desenvolvem documentando guerras. Era a mesma sensação que experimentara em Iraque, mas não fazia sentido num lugar como Chaves. Fosse o que fosse aquilo não tinha fundamento – ou talvez sim. Aqueles documentos pesavam demasiado para serem simplesmente papéis.
Subitamente uma imagem solitária irrompeu ao longe. Alguém subia pela rua. Qualquer pessoa, um vizinho. Duas pessoas encurtavam distância cada vez mais como se lhe fossem perguntar qualquer cousa. Da Silva deslocou-se para o outro passeio. Os visitantes também o fizeram. Era claro. Eles procurá-lo-iam. Instintivamente deu volta e deitou a correr quando as inquietudes que o vieram acompanhando personificaram-se noutro acossador. Não tinha para onde fugir. Avançavam dum lado e doutro e ele no meio, impotente. Uma luz pobre duma taberna revelou-lhe uma saída, mas a dous passos da porta alguém o pegou do braço.- Espere. – Disse uma voz seca e autoritária. – Não percebe nada, verdade? Entre, vamos!- Os outros chegam a tempo de entrarem na taberna Machado. Pareciam doutra época. Igualmente vestidos cuma gabardina e um chapéu preto. Também vestiam luvas de coiro.- Quatro vinhos, por favor – Pediram enquanto um deles o fitou fixamente, desafiante.- Leva quê, nessa pasta?- Ao senhor não importa. – Ripostou Da Silva com decisão, ocultando o seu temor.- Aqui quem faz as perguntas sou eu! Está a perceber?
Da Silva sentiu um calafrio a lhe percorrer o corpo. Milheiros de pensamentos passavam pela cabeça. O estômago trabalhava como se estivesse a digerir uma pedra. Buscava qualquer solução a um conflito que parecia irresolúvel. Enquanto calculava as suas hipóteses sentiu o cano duma pistola nas costas. Um deles estava a apontá-lo discretamente.
- Nem o intente. Sei o que está a pensar. Se berrar mato-o. Agora beba. Atue com normalidade. Beba! – Disse aquele que empunhava a arma. Tiraram-lhe a pasta das mãos e verificaram o conteúdo. Apenas um olhar entre eles foi suficiente para se aperceberem. Eram os documentos que procuravam, documentos que nem sequer o jornalista tivera oportunidade de observar. O copo de tinto tremia nas mãos enquanto compartilhava balcão com flavienses unicamente intrigados pelas vestimentas próprias de três noviorquinos dos anos ’40. Fosse como fosse, o seu sequestro passava desapercebido. Da Silva só podia confiar em que o deixassem partir agora que já tinham aquilo que procuravam.- Quanto é? – Disse o primeiro deles.
- Quatro euros.- Fique com o troco.
- Obrigada.- Obrigados nós. Reservadamente, a safanões, expulsam-no. Caminham mais à frente até um recanto discreto, com pouca luz. Lá esperava uma viatura preta.
Antes, quando preparavam
a grande operação

Chegaram montes de informes de balística. Conseguira-se identificar algumas armas. Procediam de Colômbia, dum lote desaparecido num quartel militar de Bogotá. Também desapareceram explosivos, se calhar os mesmos explosivos que detonaram no tiroteio. Outras munições eram de fuzils M 16 de procedência desconhecida. Os investigadores da polícia começavam a baralhar diversas hipóteses que guardavam relação com o tráfico de armas. Revisavam todos os dados que guardavam a respeito de redes criminais de origem hispanoamericana. O comissário desesperava-se no seu despacho, rodeado dum monte de papeis. Nãos deixava de receber telefonemas. Todo o mundo exigia informação, mas aquele não era um caso fácil.

Uma voz autoritária disse – ¿Cómo es esa ave negra?
- Sabemos que sois da Gaivota Preta e vós sabeis quem somos nós- Respondera Miro. Alguém tinha telefonado em vistas do anúncio.
- Temos dados, informação que vos pode pôr em perigo. Apenas queremos dinheiro para iniciar uma nova vida, uma vida de liberdade. Merecemos uma indemnização pelo que nos fizestes. A informação pelo dinheiro. É simples.
- ¿Cuánto?
- Digamos que quarenta mil euros por cada um de nós.., trezentos, trezentos mil euros.
- Quedemos en..
- Na alameda, em Compostela, amanhã de manhã, às 12:00 a.m. onde a estátua das Marias.
- Bien. Ahí estaremos. No intenteis nada de lo que os podais lamentar.
A comunicação fechou-se. Funcionara, a iniciativa funcionara. Só restava preparar tudo.

Da Silva foi torturado

Estava sozinho numa pequena cela. Da Silva acordou lá. Não havia nada mais do que uma grande porta metálica. Intentou erguer-se, mas não puido. Estava sugeito a um cadeirão como os que se usam nas clínicas dentais. O único que lembrava era o interior do auto preto. Não tinha o telemóvel consigo. Estava incomunicado. Havia um cheiro a éter no ambiente. Todo eram móveis de metal cheios de recipientes e instrumental médico. Acima havia uns potentes focos de quirófano. Da Silva estava lá sequestrado e não havia nada que pudesse fazer. Resistia com todas as suas forças, mas inutilmente. Intentava forçar as ligaduras quando em breve sentiu passos e pouco depois falar. Abriram a porta metálica um homem com bata de médico e outros três de gravata. O doutor tinha rotulado no peito uma gaivota preta cum i maiúsculo como letra inicial da palavra “investigação”. Um deles, o mais maior, gordo, baixo e careca achegou-se a da Silva.

- Le vamos a hacer una serie de preguntas. Por su bien haga caso y responda a la verdad. Dum modo u otro va a hablar. ¿Para que sufrer inutilmente? Díganos lo que sabe y acabemos con esto.

Da Silva irrompeu – Mas, mas.., eu não sei nada. Só que devia ler os documentos que...

- ¡Empezamos mal. Responda unicamente a lo que se le pregunta! ¿Quién es? Dígame su nombre, apellidos, profesión. ¿Qué tiene que ver con todo esto?
- Ernesto, Ernesto da Silva Lopes, de Lugo, atualmente residente em Chaves por motivos de trabalho. Sou jornalista. Escrevo para alguns jornais e eventualmente trabalho na rádio. Eu não sei o que é tudo isto. Apenas recebi a pasta. Alguém me disse que devia tirar à luz algo mui importante.
- ¿Quién? Dígame.
- Nem sei. Ligou para mim de telemóvel. Combinamos três vezes. Na terceira deu-me a pasta que os senhores me tiraram. Inácio, seu nome é Inácio.
- ¿De qué conoce a Ignacio?
- Apenas disso. Já disse que eu não o conhecia.
- Es posible que estea mintiendo. ¿Cómo se que lo que me está diciendo es cierto?
- Juro-lho, de verdade, digo a verdade. Tem de acreditar em mim. Não minto, de verdade.
- ¿Qué debía hacer con eses documentos?
-Lê-los, em casa, com calma. Devia escrever um artigo ao respeito. Ainda nem tivera tempo de abrir a pasta. Seja o que for, eu não sei nada. Deixem-me marchar, não direi nada. Dou-lhe a minha palavra de honor.

O careca suspira. Faz uma pausa. Seguidamente diz ao homem da bata:

- Doctor, tengo que estar seguro de lo que dice. Inyéctele esto. Veamos si dice algo, si insiste en las mismas respuestas, si dice algo más.
- Não me parece que seja um criminoso?
- En serio, doctor, este hombre está implicado en algo de lo que usted no tiene ni idea. Cumpla con su trabajo.
- Não me obrigue a fazer isto. Eu fui contratado para investigar, não para interrogar a ninguém.
- Cumplirá con lo que se le ordena. Cumpla el contrato que firmó o de lo contrário ya sabe lo que le espera.
- Está bem, mas acho que este homem diz a verdade.

Antes, quando o capturaram
ao cientista

- Todos prontos? - Perguntou Miro.
- Prontos.
- É hora de eu ir ao encontro. Vós aguardais lá abaixo onde acordamos, ok? Isto é algo que hei de fazer eu só. Não podemos fracassar.

A equipa descera rua abaixo no Land Rover. Miro avançava caminho da alameda cum CD nas mãos. Lá aguardavam por volta de seis pessoas que desceram duma carrinha preta. Miro não vacilava, estava certo do que fazia.

- Ese CD. ¿Son los documentos?
- São – Disse Miro – E o dinheiro?
- Está en este maletín.

O homem encurtou distância e abriu a mala exibindo um sem fim de bilhetes.

- Dinero en efectivo. Ahora deame el CD.
- Está bem.
- Espera. No tan rápido. Primeiro verificaremos su contenido. Por cierto, como sabemos que no teneis más copias?
- Terás de fiar-te da minha palavra.

Um dos homens levou o CD à carrinha, mas em breve voltou.
-Tudo bem?
- Está todo bien. Ahora unicamente falta capturarte.

Inesperadamente todos tiram uma pistola, mas Miro já contava com isso. Dispararam contra ele e nenhuma bala o alcançava. Mais uma vez fazia gala das suas habilidades extraordiánrias. Ele também ocultava uma arma. Detrás das árvores respondia ao fogo inimigo com precisão. Era Ares em campo de pólvora, Zeus em ira desde o Olimpo, Breogám comandando aos seus homens cabo da Irlanda para vingar a morte do seu filho Ith, Thor contra os gigantes. Ninguém o podia deter. Logo matara a quatro e desde bem longe ao motorista da carrinha. Telefonou e em breve apareceu o Land Rover. Miro disse-lhes aos camaradas que na carrinha havia mais alguém, que havia que abri-la. Inácio acompanhou a Miro. A disparos rebentaram o feche das portas de atrás. Dentro havia um cientista cuma bata branca. Foi amordaçado e guiado até o Land Rover. A operação fora tudo um êxito.

Na cabana do bosque, numa habitação escura, atado a uma cadeira. A equipe interrogava ao prisioneiro.

- Onde está o búnquer? Contesta ou rompemos-te o pescoço. Responde!
- Eu não sei. Unicamente obedecia ordens. Devia aguardar na carrinha para sedar aos possíveis reféns.
- Quem és? Sabes o que de todo isto? Que nos fizestes? Para quê? Fala!
- Comecei quando apenas era um jovem recém doutorado. É um bom trabalho. Pagam bem, muito bem. Disponho dum laboratório de última geração, um sonho feito realidade para qualquer científico. Apenas investigo no que tenho de investigar. Até há pouco tempo não sabia o que acontecia na realidade, não me falam do que há nas outras estâncias do búnquer nem pergunto. Tudo aquilo é alto segredo. Trabalho para uma instituição segreda. E o que importa? Há agências de inteligência por todo o mundo que operam no mais estrito segredo. Um bom trabalho é um bom trabalho. Dizem-nos que as pessoas com as que experimentamos o DGH, o detonador genético humano, são presos perigosos, terroristas, violadores e assassinos, do pior da sociedade. Sei lá, cada vez que o penso parece-me impossível. Esses filhos da puta são.., têm ambições tão surrealistas que semelham tiradas dum cómic de Marvel.

Iniciáramos os estudos com todo tipo de esteróides, mas os resultados eram péssimos. Conseguíamos melhorar o rendimento atlético dos indivíduos e ainda assim aquilo era insuficiente, havia que ir mais longe e sem os estragos metabólicos que causam os anabolizantes. Achávamos que aquelas pesquisas estavam destinadas a alongar a esperança de vida do ser humano, mas a realidade é bem diferente. Esperavam do laboratório a fórmula do guerreiro perfeito. Eu disse, não é? Eu disse que parece mesmo algo próprio dum cómic, da ciência fição, mas.., aquilo foi. Vós sois o produto dessa investigação. Por acaso nãos percebeste que o teu corpo responde à atividade física dum modo sobrenatural.., hein?

Os anabolizantes não serviam, assim que fiz com que a equipa de investigação se centra-se na identificação dos genes responsáveis da força, velocidade, reflexos, intuição... Para isto era necessário ampliar indefinidamente o número de mostras genéticas. O senhor Sánchez dissera-me que não havia problema, que destinaria os recursos que fossem necessários. Fora ao seu despacho com vagas esperanças de conseguir o que os cientistas encomendávamos, mas ele respondeu afirmativamente. Fez buscar nas intermináveis bases de dados perfis de atletas e soldados extraordinários. Dum modo ou outro lograriam fazer-se com o material genético necessário.

- Falas como se fosses inocente?
- E sou. Este segrego, todos estes anos.., necessito liberar-me do seu peso. Eu não pretendia fazer mal a ninguém.

-Continua com o que estavas a dizer. Não tenho toda a vida para ouvir-te.

-Comecei a suspeitar quando me disseram que tinha de ir a uma cela visitar a um preso. Não é habitual que nos convidem a visitar aos reclusos. Eles estão no andar inferior ao qual os cientistas não temos acesso. Enfim, acompanhei ao oficial até onde ele me indicou. O elevador abriu a um corredor escuro flanqueado de portas numeradas. Caminhamos quase até o fundo, até uma porta diferente que tinha rotulado “interrogatórios”. Lá aguardavam outros dous oficiais e o senhor Sánchez, quem me disse que devia estimular a um preso a confessar. Como? Perguntei. Sánchez mirou para os seus sapatos e depois para os meus olhos. Como seja necessário. Use drogas, o que for. Respondeu. Neguei-me, mas não tinha alternativa. Assinara um contrato no que se me exigia manter em absoluto silêncio todas as atividades desenvolvidas no laboratório. Devia obedecer as ordens sem questioná-las. Caso não cumprisse o contrato, seria encarcerado.

- Como pudeste assinar um contrato assim?

- Era muito dinheiro e nem imaginava que se pudesse dar uma situação como essa. Necessito esse dinheiro. Não acreditava que estivesse a fazer algo mau. Não estamos na Alemanha nazista. Naquele momento intentei forçar uma ética que me permitisse seguir para a frente. Insistiam em que era um criminal mui perigoso que capturaram havia escassas horas e que resultava imprescindível tirar-lhe certa informação pelo bem de muitos. Que quer que fizesse? Se não o fazia eu outro se prestaria ao trato.

- E esse senhor Sánchez é quem?

- Sánchez é o meu superior, quem assina os meus cheques e a quem tenho de entregar-lhe as memórias dos estudos realizados no laboratório. Acho que se chama Mariano, Mariano Sánchez Pozo, sim, isso é, Mariano Sánchez Pozo.

- Que mais? Onde mora? Onde podemos encontrá-lo?

Nem sei. Não se nos permite saber dos nossos subordinados e superiores mais que o estritamente necessário. Só sei que é um homem baixo, mui gordo, cuma grande papada e pança. É careca salvo pelos poucos cabelos que lhe aninham detrás das orelhas. Sempre viste igual, viste de gravata, em preto. Ah, sim, também usa lentes quando tem de ler algum documento e sempre, sempre fala castelhano.

- Está bem. Vamos a cobrir-te a cabeça com o mesmo saco com o que te trouxemos e levar-te à cidade, às portas da polícia com toda esta informação, informação para descobrir à Gaivota Preta. É hora de que assumas a responsabilidade dos teus factos. A polícia ocupará-se de ti.

- Inácio, gravaste tudo?
- Gravei. Agora mesmo me ponho a transcrevê-lo.
- Liga para da Silva para combinar com ele e entregar-lhe o material.

Finalmente, quando “La Gaviota Negra”
foi descoberta.

O comissário recebeu um envelope. Vinha acompanhando a um homem com as mãos atadas ás costas, um homem que alguém deixou nas escadas à entrada da comissaria. Parecia que tudo começava a ter sentido. A sociedade segreda “La Gaviota Negra”.

Estava a lê-lo, mas não podia dar credo. Uma cousa assim só podia ser fantasia, pensou. Mas alguém teria suportado tantas dificuldades apenas por uma fição. Não. Aquilo era algo sério. Contudo, uma organização secreta, alta tecnologia e manipulação genética em humanos. Algo tinha de haver errado ou quando menos de exagerado. Reflexionou mais um bocadinho. Suspirou e guardou novamente os documentos na gaveta. Pegou o telemóvel e telefonou ao seu superior.  

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